segunda-feira, 23 de julho de 2012

Fita de sangue






O cheiro de café impregnava a sala antiga e fundindo-se a este cenário monocrômico; uma garota permanecia estática tentando inutilmente formar laços.
A fita vermelha insistia em escapar-lhe dos dedos pequenos e uma expressão de enigma se propagava em seu rosto. Haviam se passado horas desde sua primeira tentativa de modelar um laço, tentara tudo; adesivos, cola, linha... E em todas as situações a fita continuava simples; sem contornos ou adornos, inerte.
Sua última esperança era a tesoura, utensílio proibido para crianças, como lhe diria a avó se estivesse por perto. E eis que a “caixa de pandora” estava a segundos de ser violada, não ausência de alguém para impedi-la, esta se dirigiu sorrateira até a cozinha e com olhos astutos buscou seu tesouro de maturidade. Estar apta a cortar algo não era somente cortar, era também ser qualificada de acordo com sua habilidade, sua essência e sua responsabilidade (pois quando se corta algo, se esta sujeito ao erro). E galgar este reconhecimento era tudo o que aquela pequena garota poderia buscar naquele momento. Já tinha a tesoura em mãos, e só de possuí-la sentia o coração palpitar, e dado o momento, ela cortou.
Cortou sua fita em pequenos gomos, o que lhe possibilitaria junta-los e por fim fazer o seu primeiro laço. Entretanto a expectativa fora quebrada. Sua pele branca agora se tingia de sangue, um pequeno corte se exteriorizava em sua mão esquerda. E esta junção deixou evidente o que lhe faltara e estava oculto o tempo; sangrar.
Somente desta forma foi que a menina compreendeu que para se tornar mulher é necessário sangrar para criar laços. 

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